A erupção de um vulcão em La Palma, uma das ilhas do arquipélago espanhol Ilhas Canárias, no domingo (20) lançou uma nuvem de fumaça e cinzas em parte da ilha.
Apesar dos alertas emitidos na semana passada, o risco de um cenário de forte atividade não se confirmou e a erupção verificada é considerada modesta. Autoridades não emitiram alerta de tsunami para qualquer parte do mundo associada ao vulcão.
O fenômeno, antes mesmo de ocorrer, levou a emissão de um “alerta amarelo de risco”, o que chegou a provocar inclusive o temor da formação de tsunamis que poderiam atingir a costa brasileira, principalmente o litoral setentrional, formado por Ceará, Rio Grande do Norte e nordeste do Maranhão.
Especialistas brasileiros são unânimes ao afirmar que o evento não apresenta riscos para o Brasil.
A Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) destacou que, mesmo após o início da ação eruptiva em La Palma, “o risco para o Brasil segue muito baixo” e que não houve nenhum alerta de tsunami.
“Esse assunto foi discutido na mídia uns 20 ou 30 anos atrás quando foi publicado um trabalho de geólogos americanos sobre a possibilidade de desabamento de uma parte da ilha provocar um tsunami no Brasil”, citou Marcelo Assumpção, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP), em comunicado divulgado pela RSBR.
“Na época, a conclusão foi de que a probabilidade de que o deslizamento fosse suficientemente grande para provocar um tsunami perigoso era muito pequena”, explicou Assumpção.
Segundo Assumpção, para que um tsunami chegasse ao Brasil, a atividade vulcânica teria de ser excepcional para derrubar uma parte da Ilha provocando um deslizamento gigantesco em direção ao mar: “Teoricamente, o tsunami poderia ser bem grande.” Entretanto, a erupção vista em La Palma está muito longe dessas proporções.
Até o começo da manhã, a atividade forçou a retirada de cerca de 5.000 pessoas (entre elas, cerca de 500 turistas). A expectativa é que não seja necessário ampliar a evacuação. Não há registro de nenhuma morte.
Por sua vez, o professor Aderson Nascimento, coordenador do Laboratório Sismológico da UFRN, reforçou que a possibilidade de o fenômeno ocorrer (erupção com colapso de parte da ilha e da estrutura do vulcão) é muito baixa. “A atividade vulcânica na região das Canárias é comum e é monitorada”, afirmou, também em esclarecimento divulgado pela RSBR.
“Na região do Atlântico não existe sistema de alerta porque o risco é baixíssimo”, disse o sismólogo. Ele ressalta, porém, que a Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) tem capacidade de monitorar eventuais consequências da erupção caso houvesse ocorrido o pior cenário, que não se confirmou.
Sem risco e sem aviso
Carlos Teixeira, professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutor em oceanografia pela University of New South Walles, na Austrália, também ressalta que nenhum aviso de tsunami foi emitido.
“É um começo na verdade, mas a mensagem é a mesma: não há motivo para preocupação. Não há risco iminente de tsunami, não há nenhum aviso. Então, não se preocupem, a gente está monitorando, acompanhando as notícias, mas não há nenhum motivo para preocupação”, declara o professor.
“A probabilidade da gente ter um tsunami é muito pequena. E mesmo que a gente tivesse, nem todo tsunami é aquela coisa de filme, de 30 metros. Tsunami é uma onda que pode ter centímetros, que é o que acontece na maior parte das vezes, mas nem isso a gente tem no momento”, reforça Teixeira.
Segundo o pesquisador Saulo Vital, professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Coordenador do Núcleo de Estudos e Ações em Urgências e Desastres (NEUD), não existem estudos aprofundados com simulações, porém, devido ao formato da costa brasileira, a região do Nordeste se tornaria a região mais vulnerável, principalmente o litoral setentrional, formado por Ceará, Rio Grande do Norte e nordeste do Maranhão.
Alertas emitidos: estado de observação
O professor e pesquisador Saulo Vital explica que existem quatro níveis de alerta, o amarelo é o segundo nível, que trata-se, na verdade, de um estado de observação por causa dos pequenos sismos dos últimos dias. Foi este nível que acabou emitido na semana passada. O pesquisador afirma que o alerta é importante, mas não é dos mais graves.
Segundo ele, o que poderia causar uma tsunami seria uma erupção explosiva, ou seja, o desmoronamento de parte do vulcão. Isso porque, de acordo com ele, os sismos que costumam ocorrer na área do Cumbre Vieja são moderados, e o que pode gerar tsunamis são abalos sísmicos de alta intensidade.
Caso haja uma erupção capaz de desestabilizar a estrutura rochosa do vulcão, causando um desmoronamento, essa queda iria gerar um movimento de massas d’água. Esse movimento criaria altas ondas, que atingiriam toda a costa do Atlântico.
O coordenador do Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Aderson Nascimento, também ressalta que nenhum alerta foi feito ao órgão.
“Essa chance é muito pequena de acontecer. A gente como órgão de sismologia, ninguém soube de nenhum alerta que foi emitido pelo serviço geológico espanhol ou algum órgão oficial dizendo que isso está acontecendo”.
Crédito: g1.globo.com