O Rio de Janeiro será o primeiro estado do Brasil a adotar Indicação Geográfica (IG) na sua produção de laranjas. O sabor diferenciado da chamada frutas produzidas na região de Tanguá vai garantir aos produtores um selo, emitido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), comprovando sua qualidade única e sua origem. Segundo o último senso divulgado pela Pesagro-RJ (Empresa de Pesquisa Agropecuário do Rio de Janeiro), em dezembro de 2018, 830 citricultores fluminenses realizavam uma colheita superior a 70 mil toneladas da fruta.
O processo pela adoção da IG é uma ação conjunta do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); da Secretaria Estadual de Agricultura e Pesca – por meio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-Rio); da Associação dos Citricultores e Produtores Rurais de Tanguá (ACIPTA); e das prefeituras de Tanguá, Itaboraí, Rio Bonito e Araruama. Os municípios são contíguos e produtores da laranja, Tanguá fazia parte de Itaboraí até 1995, quando se emancipou.
A Indicação Geográfica serve para identificar a origem de um produto ou serviço quando certa característica ou qualidade se deva ao local onde é produzido. Com sua emissão, preserva-se as tradições locais, e torna-se possível marcar a diferença de outros produtos similares, além de intensificar seu acesso a mercados.
– Hoje, cerca de 70 IGs estão registradas no Inpi. Não é só o selo, são desenvolvidas boas práticas de gestão, associação de produtores, uso de defensivos corretamente, questão de análises que próprios produtores podem fazer em relação a parâmetros físicos, ao tamanho, separação de tamanhos para melhor venda. Um projeto como esse valoriza o produtor, o território e as pessoas. A gente muda a realidade da região com o que perpassa esse projeto – explica Ludimila Gaspar, auditora fiscal agropecuária que atua pelo Ministério.
O processo pela adoção da Indicação Geográfica começou em 2011, sofreu um intervalo e foi retomado em 2017. Foi firmado um convênio até 2021 entre a Prefeitura de Tanguá e o Ministério da Agricultura, pelo qual uma empresa de consultoria especializada em Indicação Geográfica foi contratada e deve encaminhar a documentação para o Inpi ao fim do período para finalizar o processo.O primeiro passo, ainda em 2017, foi a organização da ACIPTA, que ficará responsável por administrar a IG após sua implementação. A organização dos produtores é essencial e foi promovida pela secretaria de Agricultura de Tanguá. Hoje, por exemplo, a associação já está apta a participar do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
– Trabalhamos com produtores para termos os produtos certos nos tempos certos, precisamos estar com eles melhorados sempre. Nossa laranja é usurpada em vários municípios, vendem como se fosse a original, que tem período de safra é específico. Temos os laranjas de tipo Seleta, depois é o período da Natal e, por fim, a Natal Folha Murcha. A Seleta é colhida até julho, as vezes vai até dezembro – explica a secretária de agricultura de Tanguá, Cláudia Milão, umas das principais agentes no processo pela IG.
Estudos estão sendo feitos para comprovar que a doçura específica da laranja produzida na área dos quatro municípios é uma característica referente ao solo onde as frutas são produzidas. O controle das mudas também está sendo estudado para que seja implantado um sistema mais seguro de produção, fator importante que não havia despertado a atenção necessária até então.
– A Indicação Geográfica está sendo feita porque nossa laranja é a mais doce do Brasil, é conhecida como a laranja de Itaboraí. A questão principal é o sabor. Quando se corta uma fruta de outro estado vai ter uma cor pálida, quando se espreme no copo a nossa é um alaranjado forte e muito doce. Aproveitamos esse momento para fazer valer essa característica regional. Estão sendo feitos levantamentos climáticos, de solos, e da qualidade da laranja. Esse material está sendo preparado para fazer uma comprovação real – explica engenheiro agrônomo e supervisor do escritório local da Emater-RJ em Tanguá, Licínio Silva Louzada, cuja atuação também está na organização da ACIPTA, seleção de produtores para a pesquisa das características dos solos dentre outras atividades.
Com a IG da laranja, será criado a estrutura com a marca do produto, o que vai beneficiar o produtor local. A laranja cultivada e colhida na região também deve ter seu valor de mercado aumentado. Há também a expectativa de que empresas se interessem pela citricultura no local.
– Existem alguns dados levantados no Rio Grande do Sul, na produção de uva. Lá, houve impacto de mais de 500% no valor da terra. Existem outros dados, aumento no valor do produto que passa por um melhor de qualidade. E consumidor passa a valorizar o produto porque conhece a origem, o tipo de processo, a identidade daquele produtor vinculado aquele produto. Potencialmente tem um valor superior aos demais equivalentes no mercado – diz Gaspar Já com a IG reconhecida, pode haver ainda diversificação na produção, além da convencional. Como a orgânica, que usa metodologia própria.