Horas após a atriz Klara Castanho, 21, contar nas redes sociais que gestou e fez a doação de um bebê, que seria fruto de um estupro, o colunista Leo Dias e o portal que hospeda a coluna dele, o Metrópoles, publicaram pedidos de desculpas à artista, após publicação de dados sigilosos sobre o caso.
Citados em reportagens sobre o tema, a apresentadora Antônia Fontelle e o jornalista Matheus Baldi também se manifestaram a respeito do assunto.
No sábado (25), a jovem divulgou uma carta aberta em seus perfis nas redes sociais, horas depois de uma série de ataques no Twitter a criticando por não ficar a criança. O movimento foi registrado após manifestação da apresentadora Antônia Fontenelle, a partir de um vídeo de Leo Dias numa entrevista na TV. Ambos trataram o assunto sem mencionar o nome da atriz ou o crime de estupro.
Após a divulgação da carta aberta de Klara Castanho, o colunista publicou o nome da atriz e dados do nascimento da criança, incluindo hora e local de nascimento, cujo sigilo é resguardado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, em reportagem veiculada no site Metrópoles. O conteúdo foi deletado pouco.
Segundo o Metrópoles, o site errou por ter permitido que detalhes “sobre o triste caso envolvendo uma mulher em situação de extrema vulnerabilidade” fossem publicados.
“Não há justificativa que sustente o argumento do interesse público em conhecer detalhes sobre uma história em que os únicos interessados são a vítima e seus familiares. E, neste caso, a Justiça e o Ministério Público, que intercederam para ajudar Klara no processo de adoção da criança”, afirmou o veículo de comunicação em nota oficial.
De forma semelhante, o jornalista Leo Dias se pronunciou, neste domingo (26), pelas redes sociais. Ele pediu desculpas a Klara e deu detalhes sobre como teve acesso às informações a respeito da atriz, há um mês, e por que, após apurar detalhes por telefone com a atriz, logo após o parto, decidiu não publicar o caso em sua coluna.
“Na conversa, Klara me relatou a violência de que foi vítima. E sua decisão de entregar a criança para a adoção. Me pediu que eu não escrevesse sobre o assunto. E eu, prontamente, me comprometi com ela a não expor a história publicamente”, afirmou Dias.
No último dia 16 de junho, em entrevista exibida no dia 16 de junho no “The Noite”, apresentado por Danilo Gentili no SBT, Leo Dias, sem citar o nome de Klara, disse que sabia uma informação “inacreditável” sobre uma atriz, que a “conta” dela iria chegar, pois o caso “envolve vidas” e, por isso, ela carregaria um “carma grande”.
Ainda na noite de sábado, o UOL procurou Antônia Fontenelle, que alegou que não citou o nome de Klara Castanho em nenhum momento e disse: “o que eu tenho a ver com isso?”. Na live que havia feito na quinta-feira, a apresentadora correlacionou o caso da atriz a “abandono de incapaz”.
Apesar da apresentadora falar em abandono de incapaz, a “entrega voluntária para adoção” é um dispositivo legal, previsto na Lei 13.509 de 2017, a chamada “Lei da Adoção”. O texto altera o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e dá as diretrizes para amparo de gestantes ou mães que queiram entregar crianças para adoção formal e legalizada por meio da Justiça da Infância e Juventude.
No final do domingo, Fontenelle publicou manifestações nas redes sociais.
Ela divulgou um vídeo, direcionado à Klara Castanho. Na mensagem, reitera que não citou o nome da atriz e afirmou que as informações que tinha sobre o caso eram diferentes das que Klara divulgou e que ela faz ativismo contra casos de violência sexual e doméstica. Antônia Fontenelle ofereceu ajuda para punir o homem que cometeu o ato de violência contra a atriz.
O jornalista Matheus Baldi, que divulga conteúdos sobre celebridades em seu perfil no aplicativo TikTok e no “Fofocalizando”, do SBT, publicou uma manifestação sobre o tema após ser citado em reportagem do “Fantástico”, da TV Globo.
Baldi confirmou que publicou um conteúdo afirmando que existia a suspeita de Klara Castanho poderia estar grávida e que tinha feito contato com a assessoria de imprensa da atriz, até então sem resposta. Segundo o jornalista, a publicação foi apagada após ser informado pela atriz do que havia ocorrido.
“A partir dali, entendi que apenas a Klara teria direito de se manifestar sobre o assunto – e apenas se quisesse”, diz. “A reflexão e a mudança de comportamento se tornam extremamente necessárias”, prossegue Matheus Baldi em sua conta no Instagram.
Confira o posicionamento do Metrópoles:
Sobre o episódio de Klara Castanho, erramos. O Metrópoles não deveria ter permitido que o colunista Leo Dias, que publica suas colunas no portal, desse detalhes sobre o triste caso envolvendo uma mulher em situação de extrema vulnerabilidade.
Não há justificativa que sustente o argumento do interesse público em conhecer detalhes sobre uma história em que os únicos interessados são a vítima e seus familiares. E, neste caso, a Justiça e o Ministério Público, que intercederam para ajudar Klara no processo de adoção da criança.
Em relação à Klara Castanho, praticamos mau jornalismo
Não é uma justificativa. Mas, as circunstâncias neste episódio contribuíram para que o erro demorasse a ser corrigido. A matéria foi ao ar por volta das 21h e retirada duas horas depois.
Assim como os demais colunistas do Metrópoles, Leo Dias tem autonomia para publicar suas informações. Muito embora o portal faça uma ressalva de que o conteúdo dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição do veículo, é claro que, se publicamos o colunista em nossa página, temos responsabilidade pelo conteúdo veiculado.
Em um veículo que publica em torno de 400 conteúdos por dia, erros, lamentavelmente, podem ocorrer. Tanto de informação, quanto de avaliação. E, em geral, somos rápidos em fazer o que for preciso para reparar os eventuais equívocos.
Esta postagem ocorreu já na noite de sábado, no final do expediente, quando havia pouquíssimos colegas na redação. Falhamos em não notar imediatamente que a matéria havia sido publicada pela equipe do colunista.
Isso não exime a culpa da equipe do Metrópoles. Todos erramos. E, por isso, pedimos perdão à Klara. Ela não merece julgamento. Não merece exposição. Merece acolhimento, respeito e empatia de todos nós.
O triste episódio servirá de lição para que façamos uma avaliação profunda sobre procedimentos em nossas rotinas. A todos os leitores, um respeitoso pedido de desculpas.
Confira a íntegra do pedido de desculpas de Leo Dias:
Há pouco mais de um mês, eu fui procurado por uma profissional de um hospital privado. Ela insistiu que precisava falar comigo para denunciar um caso atípico que ocorrera há algumas horas naquela casa de saúde.
A moça, sob a condição de anonimato, me disse que, pela primeira vez, o nascimento de uma criança não poderia ser registrado na maternidade. Nenhum dado sobre o nascimento poderia ser incluído no sistema.
Fiquei surpreso ao saber que a mulher que deu à luz aquela criança era Klara Castanho. Até aquele momento, eu não tinha noção do contexto de violência envolvendo a gestação. Meu contato com Klara não era próximo, mas, há alguns meses, a mãe dela me mandou uma mensagem carinhosa pelo Instagram e achei que eu deveria, por intermédio deste contato, mandar uma mensagem para ela no sentido de entender o que estava ocorrendo.
Àquela altura, eu não tinha noção de todos os fatos. Não sabia que ela havia sido vítima de um estupro. Klara me respondeu poucas horas depois. Chegamos a conversar por telefone.
Na conversa, Klara me relatou a violência de que foi vítima. E sua decisão de entregar a criança para a adoção. Me pediu que eu não escrevesse sobre o assunto. E eu, prontamente, me comprometi com ela a não expor a história publicamente.
O relato de Klara foi tão impactante, aquela história era tão perturbadora, que, em um ato irrefletido, me ofereci para adotar a criança. E, desde aquele momento, esta história não saiu da minha cabeça. Confidenciei isso a duas pessoas próximas.
Mais de um mês se passou. Eu permaneci sem escrever sobre a história. Mas, desde maio, fui surpreendido com vídeos e posts em que influenciadores relataram o caso ou parte dele. Evitei, assim como havia me comprometido, a revelar a identidade da atriz, mesmo tendo sido provocado a falar sobre o caso.
A postagem que fiz relatando o nascimento da criança e a adoção foi posterior à carta que Klara escreveu sobre tudo o que passara. Ela foi covardemente exposta. Tenho consciência disso.
Errei ao publicar qualquer linha a este respeito. Mesmo que a revelação da história não tenha partido de mim, mesmo que Klara tenha escrito uma carta pública narrando a dor que sentiu com toda esta violência e que eu só tenha escrito sobre o assunto após a carta dela ser publicada.
Mesmo que eu soubesse de tudo desde o início, eu não deveria ter escrito nenhuma linha sobre esta história ou ter feito qualquer comentário sobre algo que não tenho o direito de opinar. Apesar da minha proximidade com o fato, reconheço que não tenho noção da dor desta mulher. E, por isso, peço, sinceramente, perdão à Klara.
Crédito: SPLASH