Acidentes com cobras aumentam em cerca de 30% nos meses de primavera e verão, diz Butantan

Especialista do instituto explica por que serpentes ficam mais ativas no período, fala sobre grupos de cobras brasileiras e orienta acerca dos primeiros socorros em caso
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Jararaca-da-mata (Bothrops jararaca) pertence ao grupo responsável pela maioria dos acidentes — Foto: Henry Miller Alexandre/iNaturalist

Como animais de sangue frio – ou seja, que não conseguem manter a mesma temperatura interna por muito tempo – as cobras costumam ser mais ativas durante os meses mais quentes do ano, que abrangem principalmente a primavera e o verão.

De acordo com Giuseppe Puorto, diretor do Centro de Desenvolvimento Cultural do Instituto Butantan, esse nível de atividade mais elevado está relacionado ao aumento de acidentes com cobras peçonhentas no país, que tendem a aumentar em aproximadamente 30% durante o período.

Em entrevista exclusiva ao Terra da Gente, Giuseppe comenta que uma maneira fácil de lembrar quando as cobras estão mais ativas é pensar nos meses do ano que possuem a letra R no nome. Nessa lógica, maio, junho, julho e agosto seriam os únicos fora do conjunto.

“Durante os meses de outono e inverno, as serpentes se recolhem por conta do metabolismo delas. Elas se escondem em locais da natureza onde a variação de temperatura é menor, então pode ser embaixo de raízes, embaixo de uma pedra. Isso diminui o encontro com o ser humano”, explica ele.

“Quando entra a primavera, a temperatura ambiente começa a subir e isso favorece uma série de coisas: a taxa metabólica dela vai aumentar, ela deve encontrar alimento com mais facilidade, a digestão durante os meses mais quentes é facilitada para ela”, acrescenta.

Como a sabedoria da natureza não falha, o biólogo explica que é também nessa época que os filhotes nascem, quando há maior oferta de alimento. Assim, eles conseguem se desenvolver e se preparar para a difícil temporada de frio.

“No verão, elas ficam ativas ao mesmo tempo que a população fica um pouco mais ativa também a fazer atividades ao ar livre, tanto na parte da agricultura até em atividades como caminhadas por trilhas. Automaticamente, aumenta a chance do encontro do homem e os acidentes”.

Criado em 1899, o instituto é responsável pela maioria dos soros hiperimunes – que têm grande quantidade de anticorpos – contra venenos de animais peçonhentos, toxinas bacterianas e o vírus da raiva. Além de atender pessoas acidentadas da capital e do estado de São Paulo, o Butantan também funciona como um polo de orientação para outras unidades de saúde espalhadas pelo país.

Os quatro grupos de cobras brasileiras

Segundo Giuseppe Puorto, há quatro grupos de serpentes que ocorrem no Brasil: jararaca, coral, cascavel e surucucu. Confira mais informações sobre cada um deles abaixo:

  • Jararaca (genêro Bothrops): presente em todos os biomas brasileiros, o primeiro grupo é responsável por cerca de 80% dos acidentes e contém pouco mais de 37 espécies de cobras;
  • Cascavel (gênero Crotalus): este grupo ocorre em biomas de Cerrado e Caatinga, além de algumas manchas de Cerrado na Amazônia. São serpentes de áreas abertas e respondem por 10% dos acidentes;
  • Surucucu (gênero Lachesis): distribuído na Amazônia brasileira e na Mata Atlântica, o grupo inclui a maior serpente peçonhenta das Américas e está associado a 1,5% dos acidentes ofídicos;
  • Coral-verdadeira (gênero Micrurus): as 38 espécies deste grupo também ocorrem por todo o território, no entanto, a frequência de acidentes é muito menor, correspondendo a 0,1% dos acidentes, em média.

Uma ideia comum entre pessoas leigas é que, para cada espécie de cobra, existe um soro antiofídico criado especificamente por conta dela. Giuseppe, no entanto, explica que não é bem assim que a coisa funciona e que, na verdade, cada grupo de serpente possui uma sorologia adequada.

“Para o médico, não importa se a jararaca que causou o acidente é a jararaca da seca ou se é a jararaca que ocorre aqui na mata, o perfil do veneno é o mesmo, consequentemente os sinais clínicos são iguais. O importante é entender se foi acidente por jararaca ou por outro grupo”, diz o pesquisador.

De acordo com o especialista, o Brasil possui 435 espécies de serpentes, das quais aproximadamente 15% são peçonhentas. Essas 65 espécies venenosas respondem pela média de 30 mil acidentes ofídicos anuais e 150 mortes, conforme balanços recentes do instituto.

Com base nessas estatísticas, Giuseppe ressalta a importância de procurar o serviço médico para que o médico conclua se foi um acidente ofídico ou apenas uma picada sem envenenamento. “Cada grupo de de ser brasileira tem um perfil de veneno que causa um sintomas característicos”, conclui.

Primeiros socorros

O que fazer em um acidente ofídico (suspeito ou confirmado)

  • Manter a calma para tomar a melhor decisão;
  • Lavar o local imediatamente, com água e sabão de preferência. Isso porque a boca da cobra é suja e ela pode causar uma infecção secundária.
  • Se dirigir ao serviço médico mais próximo, se possível, com a parte picada (braço ou perna) em posição mais elevada que o corpo.

O que NÃO fazer em um acidente ofídico

  • Não amarrar o braço ou a perna, nem fazer torniquetes;
  • Não cortar ou furar o local para “o veneno sair”. Isso aumenta muito a chance de desenvolver infecções secundárias;
  • Não tentar sugar o veneno pelas buracos da picada;
  • Não passar nada sobre o local da picada: terra, borra de café, esterco, nada do tipo. Apenas água e sabão;
  • Não ingerir nenhum tipo de bebida alcoólica, pois isso pode mascarar os sintomas que ajudarão o médico a identificar o tipo de acidente ofídico.

Crédito: odia.ig.com

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