A origem da paçoca não tem nada de doce

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Desde 1530, a colonização causou um estrago Brasil em todos os aspectos possíveis. Além de ter apagado, assassinado e escravizado os povos nativos, as influências europeias acabaram bagunçando uma estrutura de tal forma que muito foi perdido historicamente.

A gastronomia brasileira é um bom exemplo disso. Enquanto os portugueses trouxeram iguarias para o país, como o pão, mel, figos, trigo, centeio, patos e manteiga –, até o que já tinha aqui, como o arroz e o feijão, foi alterado e “gourmetizado” pelos europeus.
Mas não é só por isso que a origem da paçoca, por exemplo, não tem nada de doce.

O alimento do povo

De vídeos de intercâmbio espalhados por várias páginas do YouTube a entrevistas com personalidades da mídia, a paçoca está sempre presente quando envolve a culinária brasileira, bem como o brigadeiro e o pão de queijo. Mas o doce, no entanto, se destaca por sua aparência esfarelante e sabor incomum, que fica entre o doce e o salgado ao mesmo tempo.

E isso não é por acaso. Originalmente do tupi “PA-SOKA”, que significa “esmagar com as mãos”, o prato foi inventado pelos indígenas e se refere à maneira como era preparado nos primórdios da colonização, mas não tinha nada a ver com amendoim: era farinha de mandioca e carne bovina que eram esmagados em um pilão de barro.

No século XVII, entre as expedições de Entradas e Bandeiras, que partiam da capitania de São Paulo capturando índios para trabalharem em lavouras e minas de ouro, a paçoca foi absorvida e serviu de alimento fundamental na dieta dos garimpeiros que saíam à procura de diamantes às margens do rio Tibagi, no interior do Paraná, por exemplo. Foi essencial porque a carne da paçoca era muito nutritiva, visto que esses homens andavam cerca de 20 dias para chegarem ao local do garimpo, além de que era de rápido preparo.

Naquela época, os tropeiros eram encarregados em fazer o comércio de animais (mulas e cavalos) entre as regiões sul e sudeste, comercializando alimentos, e a paçoca se fez presente nos alforjes desses comerciantes e dos senhores das sesmarias que só tinham isso para se alimentar nos Campos Gerais.

Assim como os garimpeiros, a paçoca alimentou os tropeiros que chegavam a ficar semanas longe de casa e precisavam carregar algo que fosse leve para não se confundir com o excesso de carga que os cavalos e mulas já transportavam.

A industrialização

Muito embora os garimpeiros tenham consumido em excesso a paçoca, foram os tropeiros os responsáveis por popularizá-la Brasil afora. Visto que transportavam encomendas e mensagens entre os distritos afastados, estabelecendo uma unidade, ainda que precária no país –, eles deixaram muitos hábitos por onde passaram.

Fora a disseminação entre a sociedade, foi o processo de industrialização comercial que transformou a paçoca de algo salgado em doce, chegando até o modo conhecido hoje: feito com amendoim, farinha de mandioca e açúcar. Sua fama é imensa em festas juninas, aniversários e outros tipos de celebrações, inclusive na Semana Santa, sendo a paçoca de rolha a mais popular e uma das mais consumidas no Brasil.

Não é para menos que o historiador Câmara Cascudo escreveu em seu História da Alimentação no Brasil que a paçoca é uma permanente alimentar e, no tempo e no espaço, um farnel de viagem com os valores da antiguidade funcional.

Crédito: megacurioso.com

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