‘Fábrica de Vetos’ incomoda vereadores em Cabo Frio

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Nas primeiras sessões do ano na Câmara de Cabo Frio, um fato chamou a atenção além dos discursos e da recém-criada CPI do Hospital da Mulher: o grande número de vetos do prefeito Adriano Moreno (Rede) aos projetos de lei dos vereadores.

Sem contar a sessão de terça-feira da semana passada, apenas para instalação dos trabalhos, figuraram nas duas últimas pautas nada menos do que 25 matérias rejeitadas pelo Executivo municipais, sendo 15 vetos totais e 10 parciais (quando apenas parte do projeto é rejeitado).

Foram barradas as proposições de oito vereadores, sete dos quais considerados integrantes da base governista. Ninguém admite publicamente, mas o fato já começa a causar certo mal-estar nos corredores do Legislativo, segundo apurou a reportagem. Nesse contexto, ganha corpo a ideia de que falta articulação política do governo com os vereadores, o que gera um princípio de desgaste na relação entre os poderes.

Recordista em matérias vetadas, com 11, a vereadora Letícia Jotta (PSC) garante fidelidade ao governo, por querer “vê-lo dar certo”, mas cobra mais diálogo por parte do Executivo.

– Um dos meus projetos era custo zero, quando pedi a implantação do Dia do Deficiente Visual. A falta de diálogo está ficando bem clara e, nem com um líder, o governo está conseguindo articular para que não houvesse veto dessas matérias ou, pelo menos, que não tivesse essa quantidade de vetos. Uma vez que tenha vício no projeto, isso é articulação. Isso tem que ser feito antes de vir para a Casa, se tiver um erro, acertar. Se todos fazem parte do mesmo governo, tem que haver um diálogo – reclama Letícia Jotta.

A insatisfação com o assunto foi tema de um discurso do líder da oposição, Rafael Peçanha (PDT), há uma semana. Segundo o pedetista, a chamada ‘fábrica de vetos’ teve a atuação acentuada no atual governo em relação ao do ex-prefeito Marquinho Mendes.

– Praticamente todos os projetos são vetados pelo prefeito. Em alguns projetos, obviamente, isso faz parte do processo democrático, quando o Executivo encontra alguma irregularidade, mas existe uma grande parte desses projetos que não tem custo para a prefeitura que não tem nenhuma irregularidade e são vetados, parece que apenas pelo desejo do prefeito de não deixar a Câmara trabalhar. O prefeito quer governar sozinho, mas também não governa. Cada secretaria funciona do seu jeito sem que o prefeito tenha pulso – critica ele, que teve três projetos devolvidos pelo prefeito.
Para Aquiles Barreto (SD), o conflito entre o governo e Câmara será inevitável caso os vetos continuem.

– Isso me traz estranheza, pois é um prefeito que já foi vereador e disse que a relação do governo com a Câmara seria bacana, mas não tem essa interlocução. É zero de articulação política e aí veta tudo. Estão vetando até prerrogativa do vereador, como a criação de datas especiais. A Câmara vai começar a derrubar veto do prefeito e isso gerar uma disputa de poderes. A gente tem que respeitar o prefeito e a Procuradoria, mas é importante o vereador se respeitado na função que foi eleito pelo povo – disse Aquiles.

Nem mesmo o líder do governo, vereador Miguel Alencar (PPS), foi poupado. Dois de seus projetos foram vetados e foram reenviados para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Evitando criar polêmica, Miguel diz que cada caso deve ser avaliado separadamente.

– Já avaliava isso no governo do Marquinho. Todo veto tem sua justificativa legal. Cada um dos vetos pela Comissão de Constituição e Justiça tem que ser avaliado para saber o motivo disso e a legalidade. Sabendo isso, a gente avalia. Não acredito que o governo vete por vetar. Tem sempre uma justificativa. Tem veto parcial de matéria minha. Acho que tem que ser avaliado – comentou.

Em nota, a Prefeitura informou que “apesar da relevância desses projetos de lei, nenhum deles foi vetado pelo prefeito por motivos políticos e sim por estarem em inconformidade com a lei e serem inconstitucionais” e por “criar despesas sem indicação da fonte de custeio e definindo atribuições a órgãos municipais, o que é vetado pela Constituição e a Lei Orgânica do município”.

Libras e criação de ‘dias’ tesourados – Entre os projetos vetados pelo prefeito Adriano, há proposições que vão da criação de dias e semanas específicas, dedicadas a alguma causa ou segmento, à instituição de novas atribuições ou programas nos serviços públicos municipais.
Um deles, de autoria do vereador Luis Geraldo (PRB), obriga o ensino de Língua Brasileira de Sinais (Libras) desde a Educação Infantil ao Ensino Fundamental.

Outro projeto momentaneamente embarreirado é da vereadora Letícia Jotta (PSC), que cria programa educacional de combate e controle da Aids na rede pública de ensino, durante o mês de dezembro.

Entre as matérias que propõem a criação de dias e semanas específicas estão do vereador Miguel Alencar (PPS), que cria a Semana Municipal da Juventude, e uma do Rafael Peçanha (PDT), que institui o Novembro Negro – mês de conscientização e reflexão sobre a causa negra em Cabo Frio.

O que diz o regimento interno

O trâmite do projeto de lei que volta à Câmara após ser vetado pelo chefe do Executivo está previsto entres os artigos 162 e 164 do Regimento Interno. No momento, os 25 vetos foram encaminhados para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que poderá solicitar audiência de outras comissões. O prazo para manifestação é de dias.
Caso isso não aconteça, o presidente da Casa, vereador Luis Geraldo (PRB) colocará o projeto na pauta imediatamente seguinte ao fim do prazo, independentemente do parecer. A Mesa Diretora convocará, de ofício, uma sessão extraordinária para discutir o veto no prazo de 30 dias a partir do seu recebimento no protocolo geral da Câmara.
A apreciação do veto será feita em discussão e votação única. Cada vereador poderá usar 15 minutos para expor o que pensa sobre o veto, que para ser derrubado, precisa do voto da maioria absoluta dos 17 vereadores.
Caso o Veto não seja mantido, o Projeto será enviado ao Prefeito para promulgação. Se o Projeto não for promulgado dentro de 48 (quarenta e oito) horas pelo prefeito, Luis Geraldo o promulgará.

Fonte: Portal Folha dos Lagos 

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